Educação e desenvolvimento humano |
Mozart Neves
Ramos (*) Criado para aferir o desenvolvimento humano dos países,
a partir dos indicadores de educação (alfabetização e taxa de matrícula),
longevidade (esperança de vida ao nascer) e renda (PIB per capita), o Índice
de Desenvolvimento Humano (IDH) tem se mostrado um importante instrumento na
definição de políticas públicas. Os países são classificados numa
faixa variando de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento
humano pleno), de forma que aqueles com IDH até 0,499 são considerados com
baixo desenvolvimento humano, entre 0,500 e 0,799 com médio desenvolvimento
humano, e acima de 0,800 com alto desenvolvimento humano. O Brasil faz parte
do grupo de países de médio desenvolvimento humano com 0,764. Um dos seus
principais desafios será o de reduzir as grandes disparidades regionais
refletidas pelo IDH dos municípios (IDHM). Por exemplo, das 100 localidades
de mais alto IDHM do País, apenas quatro não estão localizadas nas regiões
Sul e Sudeste. O município mais bem-colocado no ranking dos municípios é
São Caetano do Sul com 0,919 (similar ao da Nova Zelândia!), enquanto
Manari, localizada no Sertão de Pernambuco, encontra-se na última posição
com 0,467. Apesar destas disparidades, o País teve, na última década, um
crescimento expressivo no seu IDH. E quem mais contribuiu para este
crescimento foi a educação. Neste contexto, passa a ser importante, para
os gestores públicos, conhecer como este indicador contribui para o IDHM.
Dois vetores com pesos diferentes são considerados para o cálculo do
indicador educação: a taxa de alfabetização de pessoas acima de 15 anos
de idade (peso dois) e a taxa bruta de freqüência à escola (peso um). Em
Pernambuco, as metas estabelecidas para a educação visando o crescimento
do IDHM, nos próximos quatro anos, foram duas: elevar a taxa de matrícula
líquida no ensino médio dos atuais 30% para 56%, e reduzir de 24% para 15%
a taxa de analfabetismo do Estado (isto antes do Ministro Cristovam Buarque
estabelecer, como bandeira de governo para a educação, a erradicação do
analfabetismo no País). Por outro lado, os atuais programas sociais, como o
Bolsa-Escola, Erradicação do Trabalho Infantil e Alvorada, são
instrumentos valiosos para que essas metas possam ser efetivamente alcançadas
no âmbito das políticas públicas estaduais. Na prática, como disse
recentemente o Secretario de Estado José Arlindo Soares, é preciso
estabelecer parcerias entre as diferentes esferas de governo, de forma que a
atual rede de proteção social possa ser ampliada, acrescentando novos
mecanismos de combate à pobreza. Para melhorar a educação de Pernambuco, o governo
estadual já começou a fazer a sua parte, ao implantar o projeto de
alfabetização e de correção da defasagem idade-série para as crianças
e jovens, de 9 a 14 anos, do ensino fundamental, em parceria com o Instituto
Ayrton Senna, que irá prioritariamente beneficiar os municípios de menor
IDH. Com isto, o Governo do Estado espera atacar o problema do analfabetismo
na base, ou seja, nas primeiras séries do ensino fundamental. O programa
Governo nos Municípios, por sua vez, retoma suas atividades na cidade de
Flores, quando o governador Jarbas Vasconcelos oficializará investimentos
da ordem de 11 milhões de reais, em ações emergenciais, nos maiores bolsões
de pobreza de Pernambuco. Nesta oportunidade, o governador dará também início
a elaboração dos planos estratégicos de inclusão social por Região de
Desenvolvimento. Em
particular, para uma rede complexa como é a da educação em nosso Estado,
este será o início para se estabelecer uma nova cultura de planejamento,
tendo por base os recentes resultados do SAEPE (Sistema de Avaliação da
Educação do Estado de Pernambuco). As escolas serão estimuladas a
elaborar os seus planos estratégicos de desenvolvimento, pautados em
indicadores, metas e custos. É preciso ampliar o nível de responsabilidade
social pela escola, de forma que a descentralização das ações e a
autonomia escolar possam ganhar a dimensão necessária para que a escola se
torne, cada vez mais, um instrumento estratégico para o desenvolvimento
humano.
(*)
Secretário de Educação e Cultura do Estado de Pernambuco.
|
Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação |
( 176 ) | 05/03 |