Invasão de estrangerismos |
Mauro
Mendes de Azeredo (*) Tramita
no Congresso projeto de lei que trata da promoção, proteção, defesa e uso da língua
portuguesa. De autoria do deputado Aldo Rebelo (PcdoB-SP), foi aprovado, por unanimidade,
pela Comissão de Educação da Câmara. Creio
de toda oportunidade que a opinião pública, os intelectuais e as entidades interessadas
possam ter o ensejo de aprofundar o próprio conhecimento quanto às disposições nele
propostas, suas eventuais implicações, assim como da sua conveniência ou não para a
sociedade brasileira. A tal propósito, gostaria de aduzir algumas observações a
respeito de dois aspectos do projeto de lei. De
inicio, concordo plenamente com a premissa que norteia a preocupação do deputado Aldo
Rebelo. Se
concordo com a existência da situação visível em toda parte, tanto nos
letreiros do comércio como nas ofertas de serviços bancários, nas página de jornais e
revistas , tenho sérias reservas quanto à descrição desse estado de coisas e,
muito em especial, no que concerne aos meios e modos propostos e eventualmente impostos
para lidar com a questão. O
assunto é complexo e necessitaria, por consequinte, uma avaliação mais detida e
aprofundada. Alguns elementos, no entanto, poderiam desde já serem alinhados. As línguas
como as culturas e as próprias civilizações, não são fenômenos estanques. Carecem de
mútuas relações, de intercâmbio nos diversos níveis do conhecimento. As
palavras como as idéias, são infensas aos terrenos cercados, às proibições de
circulação. Estaremos
assistindo a uma descaracterização de língua portuguesa promovida pela invasão
de estrangeirismo, consoante refere o Jornal do Senado? Ou para apresentar a
situação de forma quiçá menos dramática e adversarial, presenciamos a uma fase na
evolução de nossa língua em que a consciência nacional se ressente de afirmação mais
pronunciada, e os efeitos da singularidade da predominância mundial dos Estados Unidos
também se refletem em nosso país? Segundo
entendo, cumpre distinguir entre as causas do fenômeno e os seus efeitos. Se não o
fizermos, corremos o risco de nos preocuparmos exclusivamente com os efeitos, e esquecer
as causas. Em outras palavras, a orientação verticalista de tentar coibir as
manifestações de uma suposta situação inquietante, sem atentar para os fatores que a
determinam, semelha voltada ao destino reservado às iniciativas que desconhecem as
realidades, sejam elas econômicas, políticas, financeiras ou culturais. Ocorre-me, a propósito, o exemplo da campanha do
ditador Benito Mussolini contra os estrangeirismos na língua italiana. A despeito do
impacto inicial da iniciativa do Duce, os ventos da história se encarregaram de varrer
tal veleidade, entre tantas outras, do regime fascista. Acredito
importante enfatizar que não é meu intuito colocar no mesmo cesto as proposições em
tela. Malgrado a indispensável ressalva, a memória do passado pode ser útil, se
desejarmos evitar-lhe os erros. Em
resumo: a valorização da língua portuguesa é uma decorrência, entre outras, da
educação e do incentivo à conscientização nacional, e, portanto, se relaciona com o
nível da auto-estima do brasileiro. Não será por sanções administrativas e por
restrições à liberdade de expressão, de discutível constitucionalidade face à norma
pétrea da proibição da censura, que iremos combater essa invasão de
estrangeirismo. (*) Diplomata
|
Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação |
( 192 ) | 01/03 |