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Publicação
do Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação |
João Roberto Moreira Alves (*)
0
ano de 2006 traz grandes desafios para o desenvolvimento da educação a
distância no Brasil, especialmente tendo em vista os resultados positivos
que foram alcançados ao longo dos primeiros anos desta nova década.
Também tem sua parcela positiva a edição de trabalhos científicos em
muitos periódicos (2) através de autores nacionais e estrangeiros.
As conclusões dos congressos e os posicionamentos doutrinários
influenciaram na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que
incorporou a EAD no contexto legislativo, e permitiram mudanças
comportamentais por parte do Conselho Nacional de Educação, que
credenciou, em 1988, as primeiras instituições para ministrarem cursos
superiores num sistema semi-presencial. (3)
Entre a edição da LDB e o início de 2006, várias normas foram baixadas
pelo Ministério da Educação, objetivando regulamentar a EAD em nível
superior, e pelos Sistemas Estaduais de Educação, na educação básica.
Foram notados credenciamentos de 136 instituições públicas e privadas de
ensino superior (entre universidades, centros universitários, faculdades e
instituições especializadas) e aproximadamente 200 escolas fundamentais e
médias, em todo o país. Apesar de ser um número ainda reduzido, se
compararmos com os 220.000 estabelecimentos de ensino distribuídos por
todas as Unidades da Federação, vemos excelentes programas sendo
realizados tanto por grandes como por pequenas organizações.
A implantação da metodologia por instituições bem referenciadas ajudou a
referenciar a EAD, permitindo que os brasileiros vissem que o sistema não
servia somente para facilitar a obtenção de diplomas, como apregoavam os
predadores do passado.
Paralelamente, o Executivo Federal criou a Secretaria de Educação a Distância,
trazendo-a para o âmbito do Ministério da Educação e consolidando os
trabalhos esparsos desenvolvidos por vários setores do governo.
Isso fez com que se demonstrasse, no cenário das políticas públicas,
que existia um reconhecimento à irreversibilidade da EAD no Brasil.
0 término de uma fase de expectativas sobre a EAD brasileira se deu
exatamente nove anos após a edição da Lei de Diretrizes e Bases, com a
publicação de um novo decreto, permitindo a criação de programas de pós-graduação
stricto sensu a distância.
Complementando essa demonstração de vontade, o MEC articulou a criação
do projeto Universidade Aberta do Brasil que não chega a ser propriamente
uma universidade aberta como existem em vários países e pretendiam os
projetos de lei que tramitaram no Congresso Nacional desde 1972 (4) e foram
abortados por um malfadado Parecer do finado Conselho Federal de Educação.
(5)
Feitas essas considerações sobre o passado recente da EAD, podemos
compartilhar algumas prospecções acerca dos desafios para 2006.
Em primeiro lugar, entendemos, encontra-se a regulamentação dos programas
de mestrado e doutorado a distância, cuja incumbência foi delegada, pelo
Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005, à Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal do Ensino Superior (6).
Um segundo item vincula-se à concessão de tratamento tarifário
diferenciado para os programas com o uso da metodologia.
Hoje paga-se
no Brasil o mesmo custo para se transmitir conteúdos pedagógicos ou
pornográficos, muito embora a legislação assegure preços especiais para
o primeiro. Para que essa perversa regra seja mudada, basta um decreto específico
por parte da Presidência da República.
Uma seqüência de itens, listados não por ordem de relevância ou
prioridade, se apresenta como desafio.
A questão passa pela infra-estrutura e pela logística, especialmente nas
escolas públicas de educação básica, onde apenas 5,8% dos
estabelecimentos de ensino possuem mais de dez computadores e tão somente
13,6% acessam a internet. (7) Sem que existam fortes investimentos no setor
a EAD, será elitista e não permitirá a democratização da educação de
qualidade, especialmente para os excluídos socialmente.
Será importante que em breve os Estados, por meio especialmente dos
Conselhos e Secretarias Estaduais de Educação, adaptem suas normas ao
Decreto de 2005, sem criarem exigências absurdas que impeçam os projetos
nacionais, e que não excluam das oportunidades de ascensão funcional os
servidores públicos que obtiverem seus ensinamentos por meio de cursos
ministrados por EAD. (8)
A regulamentação criada pelo MEC impôs que exista, na própria esfera
governamental, um sistema de transparência de todas a informações.
Isso será importantíssimo para que todos tenham acesso ao que já
existe e ao que está tramitando no governo. (9)
Precisamos ter também no Brasil um maior número de trabalhos acadêmicos
bilíngües sobre as experiências bem e mal sucedidas em EAD e portais
eletrônicos ou impressos para que as mesmas sejam bem difundidas. A
doutrina ainda é reduzida, se comparada com outras nações, muito embora
os níveis qualitativos sejam satisfatórios.
A produção de material didático iniciará uma fase de uso com menor
intensidade dos "conteudistas" em favor da adoção de textos
eletrônicos ou convencionais utilizados nos cursos presenciais. Para que é
preciso se reescrever o que já há com tradição e reconhecimento público
no mercado editorial?
No contexto das instituições que já adotam programas de EAD, o desafio é
a viabilização econômico-financeira dos empreendimentos, sem perder a
qualidade. Muitas iniciativas bem estruturadas pedagogicamente estão sendo
sacrificadas por não alcançarem os resultados esperados pelos
empreendedores.
A figura do "tutor" tende a ser substituída (pelo menos na
nomenclatura).
A definição jurídica do termo afirma que é uma pessoa responsável
por um incapaz.
As instituições e os próprios alunos não aceitarão ser
equiparados aos desprovidos de poderes.
Uma das missões dos especialistas é encontrar um novo termo, mais
adequado.
Será desafiador repensar o conceito de avaliação.
Face aos avanços das tecnologias, continuará sendo preciso deslocar
alunos ou avaliadores para um encontro presencial e uma verificação
"cara a cara"?
Vale registrar também que um dos desafios é a adoção, com maior
intensidade, de conteúdos das disciplinas dos cursos superiores de graduação.
Uma portaria ministerial permite que 20% da carga horária sejam
desenvolvidos de forma semi-presencial.
0 percentual, definido de forma aleatória, precisa ser abolido sendo
transferida às instituições de ensino tal atribuição, conforme as
características peculiares de cada projeto e
as condições próprias de cada casa de ensino.
0utra tarefa relevante será a de convencer os Tribunais de Contas a aceitar
a aplicação de recursos públicos com uso da metodologia. Em
alguns Estados há restrições de que prefeituras façam gastos em
programas de EAD.
A adequada formação de profissionais para a educação ganhará espaços,
especialmente para atender às demandas que surgirão nas instituições públicas.
Capacitá-los corretamente é um dos desafios.
Chegando-se a um dos itens mais freqüentes nos dias de hoje - os eventos
realizados sobre EAD, é preciso que sejam planejados de forma mais harmônica,
evitando desperdícios de esforços e repetições de temas.
Já foram realizados ou estarão sendo promovidos congressos, seminários,
encontros e outros de denominação similar, por diversas organizações
(10) com fins lícitos mas que acabam congregando o mesmo público.
0 mais
significativo será a Conferência Mundial de EAD que será realizada no Rio
de Janeiro em setembro de 2006 (11),representando um grande passo para se
mostrar as potencialidades da EAD não só no Brasil como no Mundo.
Será talvez o mais importante desafio para que se dê uma cabal
demonstração da capacidade dos brasileiros em fazer uma EAD adequada às
reais necessidades de uma nação com características tão próprias como
as notadas em todo nosso país.
Por fim, cremos, que o maior desafio é o de continuidade do que está dando
certo.
Muitas das vezes vemos, quando há troca de governos, que são
apresentadas coisas boas e novas.
Geralmente, os dois termos não representam uma sintonia, onde as
boas são antigas, e as novas, ruins.
Em matéria de educação o Brasil é o país do "já teve".
Quantos programas excelentes foram abandonados simplesmente por terem
sidos de uma equipe que deixou o poder?
Construindo-se as bases sólidas, a manutenção dos atuais governantes ou
a escolha de novos não trará grandes reflexos nas políticas públicas
e ações práticas no setor. João
Roberto Moreira Alves (1)
0s quatro primeiros Encontros Nacionais e os três Congressos Brasileiros
foram realizados pelo Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação, no
Rio de Janeiro.
Com a criação da ABED, os mesmos foram transferidos à nova
entidade que os realiza até hoje; (IPAEduc - 142-04/06) |
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