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Publicação
do Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação |
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pioneirismo da Revista Pedagógica no cenário educacional A imprensa brasileira surgiu com a chegada da Família Real, em 1808. Antes todos os jornais, livros e revistas eram elaborados no exterior e passavam pela Real Mesa Censória, órgão oficial da Colônia que se encarregava em definir o que poderia ser difundido e o que era proibido em nosso território.
Vários registros históricos contam que existiram importações ilegais,
caracterizadas como um recomendável contrabando literário.
Muitos dessas obras influenciaram as idéias revolucionárias de independência,
abolição e outras que felizmente prosperaram anos mais tarde.
Com a comitiva de D.João VI vieram as máquinas tipográficas que
permitiram, logo a seguir, a circulação dos primeiros jornais e a impressão
de revistas e livros.
A
cultura brasileira avançou significativamente graças a esse fato e
permitiu que se alavancassem os grêmios literários, academias e outros
centros de educação, ciência e áreas afins.
Na área educacional, contudo, o primeiro periódico só surgiu muito mais
tarde, um ano após a Proclamação da República.
0 marco referencial foi a “Revista Pedagogica”, cujo primeiro volume foi
lançado em 15 de novembro de 1890.
Seu primeiro diretor foi Menezes Vieira e a mesma era financiada pelo
governo brasileiro, sendo distribuida gratuitamente aos professores públicos
e aos estabelecimentos de ensino.
0s principais temas definidos numa linha editorial eram centrados em dois fócos:
um, de caráter oficial, trazia os atos legais relativos à instrução
primária e secundária e outro, com conferências, prática de autores
nacionais e estrangeiros, juízos críticos sobre os métodos e processos de
ensino, informações de utilidade para o progresso do professorado nacional
e crônicas.
A Revista Pedagógica era um misto do que poderíamos dizer um Diário
0ficial da Educação e um informativo voltado para o progresso dos mestres
da época. 0 primeiro volume teve 140 páginas repletas de temas interessantes.
Compulsando-se suas seções é possível se ver o decreto, através do qual
Deodoro da Fonseca criou a Secretaria de Estado dos Negócios da Instrução
Pública, Correios e Telegraphos (embrião do atual Ministério da Educação).
Uma das práticas salutares da época era a de haver uma prestação de
contas dos recursos públicos e das viagens feitas ao exterior.
Logo nas primeiras páginas havia relato de missões feitas à países da
Europa e Estados Unidos da América para que os professores conhecessem os
novos métodos de ensino e, em seus retornos, trouxessem equipamentos para
as escolas, inclusive máquinas de escrever, prancha para cálculos, esferas
terrestres, pianos, partituras musicais e obras mais importantes, inclusive
acerca da educação dos cego. No segundo bloco vem a parte mais rica para a formação e informação dos
docentes.
Destaca-se a publicação, de forma detalhada, de um manual contendo métodos
franceses de ensinar as matérias do primeiro grau.
0 mesmo servia de orientação e era um guia prático para o ensino
de gramática, aritmética, desenho, etc.
A cada número existia uma personalidade em destaque e no Pantheon Escolar
da edição inaugural foi homenageado Benjamin Constant, o primeiro Ministro
da Instrução Pública.
A ênfase brasileira foi conferida aos bons resultados obtidos no Estado do
Pará onde já existiam eleições para os conselhos escolares municipais
onde eram considerados aptos para votar, além dos homens, as mulheres
casadas, as viúvas que “vivam honestamente”, as solteiras maiores de 21
“annos” que estejam nas mesmas condições e os estrangeiros que
provarem ter família no Estado.
Por fim a Revista Pedagogica trazia as aquisições feitas para a biblioteca
e para o museu e as visitas ilustres que ocorriam ao Pedagogium (que era um
centro de excelência e multiplicação escolar).
Essa pesquisa mostra que, decorridos 115 anos, evoluimos em muitos aspectos
mas também regridimos, especialmente no campo do apoio aos professores e na
satisfação à sociedade do que se faz com os recursos públicos.
0 Brasil conta atualmente com centenas de revistas educacionais, impressas
ou virtuais, contudo não conseguimos contar com um periódico tão
abrangente como foi a Revista Pedagogica.
A importância que era dada à educação, no início da República, foi
sendo relegada a um segundo plano com o passar dos anos.
Muitos fatores, internos ou externos à escola, contribuíram com uma
desvalorização do papel do professor no Brasil.
0s fatos históricos servem para registrar épocas e comportamentos e a
Revista Pedagogica, que circulou durante cerca de seis anos, serviu como um
marco
Apesar de já haver passado mais de um século, os seus ensinamentos e
exemplos continuam extremamente atuais e poderiam servir de paradigma para
muitos governantes que insistem em priorizar outros interesses em detrimento
da educação pública. Vangloriamo-nos, nos dias de hoje, de estarmos tornando o ensino oficial obrigatório a partir dos seis anos de idade. Na revista de 1890 a “Chronica do Exterior” divulgava que, na Argentina, o ensino primário passara a ser obrigatório, dos 6 aos 14 “annos”, leigo e gratuito; se era para copiarmos nossos irmãos portenhos, por que esperamos tantos anos?
João
Roberto Moreira Alves
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EXPEDIENTE Carta Mensal Educacional
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FICHA CATALOGRÁFICA
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